segunda-feira, 9 de novembro de 2009

UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO

Um dia tive duas andorinhas
Que belas eram elas
Amáveis, receptivas, dadas aos outros
Embora não vivessem em gaiolas
Tinha-as como se fossem minhas
Eu as amava tanto
Que nem mesmo sabia a profundidade
Elas me fizeram bem
Trouxeram a mim tudo que é bom
Tanto me cativaram
Que aos seus encantos me dobrei

Por vezes ficava triste
Ao ver-las partir de tempos em tempos
Partiam para cumprir sua missão
Pois a andorinha tem que ser livre
O seu limite é o céu
E nele desliza com beleza e sem estresse
Sem esforço
Seu limiar é até onde o vento lhe leva
Em terras longínquas
Conhecendo diferentes povos e culturas
A tudo observando
Em tudo dando graças
E nessa prisão construída na liberdade
Recheada de vários portos
A muitos cativou
A muitos recheou de graça
Eu fui um deles

Afável andorinha
Doou de si
Doou da vida
Ensinou a nada se apegar
E com isso mostrou simplicidade
Eu fui um dos que assisti a esse espetáculo
Sim, eu fui um desses que tanto recebi
Como se já soubesse que da andorinha pertence o céu
Assim foram minhas andorinhas
Que triste pois sem partida não as vi
Quem sabe isso me fosse melhor
Pois a dor da separação poderia ser mais intolerável

Ontem os vi novamente no viveiro que chamamos “Tenda”
Fiquei sem palavras de tanta saudade
As mesmas foram traduzidas num abraço
Que momento belo
Lá estavam elas
Lindas como sempre
Afáveis
Nosso encontro foi alegria e tristeza
Encanto do encontro
Desespero da eminente partida

Nas diversas pontes aéreas
Vocês levam consigo um pedaço de mim
A vocês condeno eternamente de “ladrões de sentimento”
Pois me arrebataram amizade
Mesmo no pouco tempo em que lidamos
Sou devedor vocês
E vocês de mim
Agora voa andorinha
Avança pelo vento
Segue em frente
Pois tua sina é dar graça ao mundo
Mesmo que longe, bem de longe te observe
Isso já será para mim um prazer adorável
Pois contigo aprendi no revoar da vida como uma andorinha só não faz verão

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