segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mundo Globalizado e o Samaritano

Mundo globalizado. Um termo da moda. "Mundo" como palavra já significa em si um conglomerado. Mundo é junção de gente, raças, povos, tudo e todos. Mundo é como um coletivo. Globalização já é mais atual. É gente de lá e de cá, interagindo, comprando, vendendo, viajando. É trânsito de gente, de mercadorias, de informações, de dados. É a volta da aldeia, da aldeia global! Onde não há mais barreiras, onde tudo está próximo!
Compro um tênis da Nike. O Tecido veio da China. A borracha do Brasil. Mas a montagem foi em Honduras. Depois exportado para os Estados Unidos. Comprado pela internet numa loja que fica na Inglaterra. Viajou por um avião da Emirates e entregue na minha casa, aqui em Fortaleza! Tudo interligado, interessante, não é? Quanta gente trabalhando pra que tudo dê certo! Quanta sinergia! O mundo globalizado é assim! Vários subsistemas integrados para realizar uma tarefa complexa!
Mas pense comigo, atrás de tudo isso, de tanta tecnologia tem gente de carne e osso, como eu e você.
Mas o que essas pessoas têm em comum em tudo isso?
Que aparências podem ser observadas em cada uma delas?
Vou citar uma delas: A luta pela sobrevivência!
Nessa aldeia global nada se apresente mais claramente que o comércio. A luta pela vida, pelo sustento. Money. Tempo é dinheiro dizem os investidores. Ele é quem movimenta pessoas, estruturas, projetos grandiosos, logística internacional, etc. Esse mesmo comercio também nos leva a um modo de vida carregada de adrenalina. Pois nós fazemos parte desse sistema. E de uma forma ou outra essa "engrenagem" complexa que tem tantas dependências e interdependências tem que funcionar e entregar seus produtos. Essa é nossa forma de viver! De vivenciar o tempo aqui neste mundo. Assim a agilidade não é uma característica desejável, mas uma necessidade funcional! Todo esse conjunto de coisas que aqui chamo de "ecossistema da vida" nos leva a vivenciar as coisas tão rapidamente que muitas das vezes perdemos o poder de observar o belo da vida. A simplicidade das coisas se torna fugáz. Com o passar do tempo não a notamos mais muitas coisas acontecerem. Interessante é que ficamos tão envolvidos nessa lida que fica difícil se desligar, desconectar. Sempre a algo a perder quando se faz isso. E o preço não é baixo. Às vezes é perder tudo que se construiu, amigos, sucesso, dinheiro, toda uma vida ou ser taxado de doido, dês-antenado, lunático, etc. Esse "ecossistema da vida" nos tornou escravos de nossa própria criação. Vassalos de nós mesmos.

Pra ser franco, é mais fácil viver os dias na velocidade que eles se passam do que simplesmente "pausar" e apreciar a vida. Estamos tão atônitos com a velocidade, facilidade e automaticidade com que as coisas acontecem que nem pensamos na possibilidade de vivenciar essa existência fora desse ecossistema. Numa parada para ver a vida como ela é podemos enxergar que nem todo mundo se deu bem nesse "World way of Life". Existem milhares de massacrados que se sujeitam a comer a escócia do lixo. Outro dia ouvi meu sogro falar que crianças na África estavam comendo biscoitos de lama e manteiga para não morrerem de fome. Guerras têm ceifado a vida de milhares ano após ano, enquanto isso governos e grandes empresas recolhem a rodo milhões de dólares vindos do lucro inescrupuloso desses combates. Aqui mesmo no Brasil, terra onde se estraga cerca de 30% de todo produção de alimentos, a desnutrição ainda assola a milhares. Hospitais abarrotados, sendo que alguns doentes esperam até na calçada, pois não há como atender todos. Propagandas assassinas de cigarros, bebidas e outras drogas são escancaradamente transmitidas por todas as partes do planeta, enquanto isso milhões de reais são desviados por anões do orçamento, cuecas de parlamentares, fetiches sexuais dos governantes e toda a sorte de calhordice. Quando chamados à explicação os tais trazem à tona toda a sua arte de tergiversar afim de que tudo acabe em "pizza".
No meio de tudo isso está eu e você. Tendo nossas mentes às vezes liquefeitas nessa bosta toda. Quem não sabe de todas estas coisas? Quem não ouviu falar de tudo isso? Certamente já ouvimos, todavia essas verdades são meio que intragáveis. Difíceis de engolir. Quem não vendo a desgraça do próximo não sentiu no íntimo uma sensação de agradecimento a Deus por não ter nascido naquela situação? Certamente é mais fácil ver a necessidade e comentar sobre ela, e filosofar. Às vezes até arrancar lágrimas dos outros numa dessas histórias que circulam pela internet, nas correntes de e-mails, etc. Nosso ecossistema de vida trabalha em altas velocidades para justamente criar uma defesa contra todas as desgraças que nos cercam. Por isso vemos a desolação de tantos, choramos e alguns minutos depois, tudo passou. Vemos a criança na esquina, o pedinte que tem a cara da miséria estampada no rosto e sentimos o coração arrepiar de pena, mas logo que o sinal abre aceleramos e tudo se dissipa. Somos diariamente anestesiados de toda a sorte de desgraça que ocorra ao nosso meio. Tudo isso é fruto da mesma velocidade que vivemos hoje em dia. Ela cria em nós um tipo de exoesqueleto-psíquico que como couraça nos protege de molestar a mente. Na verdade nos torna sínicos. Nos torna covardes perante as necessidades dos outros. Com o passar dos dias e anos, nos tornamos "secos". Secos de alma. A vida que resta em nós fica árida, só restando gotas de caridade que logo são consumidas pelo amor-próprio.
Pensando nisso relembro o texto de Lucas 10:30 que fala de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e foi assaltado ficando segundo a palavra "meio-morto". Dois homens considerados os "crentes" da época vieram, mas vendo-o, a Bíblia fala que eles “passaram de largo”, ou seja, não quiseram se intrometer, pois a situação seria quem sabe embaraçosa, ou estavam apressados. Ocupados, etc. Nesse momento quem para é o desgraçado do samaritano. Um rejeitado pelos judeus, um inimigo meu e teu que com desvelo cuida do homem e ainda dá ordem na hospedaria para que todas as despesas corram por conta dele. Xiii que estranho? De quem menos se esperou é que se veio a ajuda!
Vendo isso me pergunto:
Será que somos próximos somente de quem queremos bem?
Pensando bem, que bem há em nós para que sejamos próximos uns dos outros?
Até quando permaneceremos cínicos? Enganando-nos a nós mesmos?
Vejo que não há melhor momento de repensarmos tudo isso, do que agora, quando a igreja passa pela série JUNTOS. Ainda mais pela introdução feita ontem pelo pastor Armando, neste domingo quando uma das palavras chaves foi “pausar”. Sugiro que assim o façamos, pois o mover do Espírito tem levado a liderança da igreja a pensar de forma unânime. O projeto pode levar a muitas mudanças. A abrir a mente de tantos, da minha, da sua! Pausar significa romper com o ciclo vicioso dessa vida que nos arrasta para um cinismo sem fim, para um amor fajuto cheio de engano, egoísmo e auto-preservação.
Chegou a nossa vez! Chegou a nossa hora! A hora de fazer como Samaritano. Romper com todos os padrões desse ecossistema e realmente estender a mão ao que precisa e não simplesmente olhar pelo vidro do carro com uma pena que se desfaz na primeira acelerada do motor.



Abraços MIL!



Salomão Soares
http://salomaosa.blogspot.com/

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